Em época de Inteligência Artificial, sejamos todos apicultores

Por Ismael Pereira*

No livro ‘O Poder da Intuição’, de Gerd Gigerenzer, psicólogo alemão que estudou o uso da racionalidade limitada e da heurística na tomada de decisões, consta um capítulo chamado ‘A Fábula do Amor Robótico’. Uma equipe de pesquisadores desenvolveu alguns modelos de robôs masculinos que seriam capazes de encontrar uma boa parceira, formar uma família e cuidar dos robozinhos até que fossem capazes de cuidar de si mesmos.

Foram eles: 1) Maximizador, abreviado para M-1 e programado para encontrar a melhor parceira; 2) M-2, projetado para se concentrar nas características mais importantes e parar de buscar outras quando o custo da coleta de novas informações fosse maior que o benefício; 3) G-1, o robô que procuraria uma parceira minimamente aceitável e, ao encontrar a primeira fêmea que satisfizesse o nível de aspiração embutido, ele a pediria em casamento e ignoraria as demais e, por fim, GE-1, que ficava satisfeito com uma fêmea minimamente aceitável, igual ao G-1, mas, além disso, vinha equipado com uma cola emocional que era liberada quando conhecia a robô aceitável e aderia com mais força a cada contato físico.

Apenas para garantir, os pesquisadores inseriram uma segunda forma de cola emocional em seu cérebro, que era liberada quando nascesse um bebê e se tornava mais eficiente após cada contato físico com a criança. GE-1 propôs casamento tão rapidamente quanto G-1, casou-se e teve três filhos. Ainda estava com eles quando a equipe terminou o relatório. Ele era um pouco apegado demais, mas confiável. Desde então, os robôs GE-1 dominaram o planeta.

Nesta fábula, M-1 fracassou porque tentou achar a melhor, o mesmo caso de M-2, e o tempo de ambos acabou. G-1 decidiu rapidamente por uma opção minimamente aceitável, mas também foi rápido em livrar-se dela. Qualquer semelhança com os usuários “indecisos” dos apps de relacionamentos é mera coincidência.

No entanto, a capacidade de amar, a cola, funcionou como uma poderosa regra de contenção que fez GE-1 pôr um fim à sua busca por uma parceira e fortaleceu seu compromisso com os entes amados.

Não é de hoje que as soluções baseadas em Inteligência Artificial vêm dominando as pautas dos assuntos relacionados à tecnologia. Há não muito tempo, algumas iniciativas de empresas eram sofríveis. Até chegar a soluções magníficas, como watson, da IBM, desejado por muitos e acessível para poucos, tanto pela complexidade da implementação como pelo alto custo, e que deixou os geeks em polvorosa.

Mas daí apareceu o ChatGPT, da OpenAI, que elevou as interações com a Inteligência Artificial a outro patamar, ao tornar acessível um recurso extremamente fantástico para pessoas que não estão nem aí para como as coisas funcionam. É mais ou menos como ligar o interruptor: o que se espera é que haja luz. A “mágica” para que isso aconteça pouco importa. 

Eu mesmo entrei na vibe e fiz algumas brincadeiras. A primeira foi uma pergunta que faço às pessoas para que questionem o senso comum. Se for alguém que professe a fé cristã, então, a confusão está pronta!

Mas, com o ZapGPT, da Enablers.io, cujos dados disponíveis para pesquisa são anteriores a 2021, não teve crise. Minha pergunta foi: “Adão tinha umbigo?” Eis a resposta: “Não, Adão não tinha umbigo. Segundo a narrativa do Gênesis, Adão foi criado diretamente por Deus e não passou por um processo de gestação”. 

E, há duas semanas, quando celebrava o aniversário de um amigo, sentado à mesa ao lado de um casal de advogados que se casará em breve, fui instigado a perguntar ao ZapGPT: quais são as chances de um casal de advogados dar certo? A resposta foi meio evasiva, de modo que não dava para concluir se a união teria chances de dar certo ou não. O mesmo aconteceu quando perguntei quais eram as chances de um casal de dentistas dar certo.

Mas, qual foi a nossa surpresa quando perguntei sobre as chances de um casal de apicultores dar certo. Eis a resposta: “Existem sim! Se vocês tiverem paixão pela apicultura, perseverança, força de vontade e habilidades para gerenciar um negócio, então, sim! É importante ter uma compreensão profunda da apicultura e se preparar para os desafios que ela traz. Algumas das qualificações unilaterais são necessárias para o trabalho, como conhecimento em criação animal, jardinagem e ciências ambientais. Além disso, é preciso ter experiência com outros ramos da agricultura para entender como a apicultura funciona no contexto de outras formas de exploração agrícola. Finalmente, você vai precisar educar-se sobre cuidados com a saúde das abelhas e regras básicas de segurança quando lidar com elas”.

Mas, como alegria de pobre dura pouco, gastei todos meus créditos naquilo que não é “pão” e agora só poderei usufruir gratuitamente do recurso no próximo mês.

Contudo, entretanto, todavia, fica a dica: sejamos todos apicultores.

*Ismael Pereira é co-fundador da Intelecto, companhia de Contact Center especializada em atendimento omnichannel e multi-idiomas, associada da AHK Paraná (Câmara Brasil-Alemanha), e é formado na área de finanças com MBA em gestão estratégica de negócios e MBA em gestão e governança de TI.


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