Apesar de resultados satisfatórios até agora, a previsão é nebulosa para o resto do ano
Pouco habituada a oscilações, a economia alemã sofre com o baixo crescimento. Os únicos setores que não registraram queda no primeiro semestre foram o automotivo e o eletrônico, mas especialistas alertam que pode se tratar de uma cortina de fumaça.
Com a alta do custo de vida, os alemães que buscam economizar já optam por não trocar o carro com tanta frequência. A média de adquirir um novo veículo a cada 3 anos de uso já é uma prática menos habitual por aqui. Com o leasing a juros mais altos, o hábito passou a doer no bolso!
O primeiro semestre correu bem para os principais fabricantes de automóveis, como a Volkswagen e a Mercedes-Benz, com alta nas vendas. Em julho, a VW divulgou que as vendas do grupo no primeiro semestre aumentaram 12,8% em relação ao mesmo período de 2022, com crescimento em todas as regiões do mundo, à exceção da China, que caiu 1,2%.
Já a Mercedes-Benz incrementou o seu lucro em 13% nos primeiros seis meses de 2023, se comparado com o mesmo período do ano passado, chegando a 7.652 milhões de euros até junho. No entanto, a rentabilidade operacional do grupo caiu para 14,3%, contra 15,3% do mesmo período de 2022.
Apesar dos números, a principal indústria da Alemanha olha para o futuro com certa preocupação. A VW já revisou sua meta de vendas para o ano e o presidente da Mercedes-Benz fala em um ambiente que começa a ficar complicado.” Os bancos centrais de diversos países estão aumentando as taxas de juros, o que estagna a economia global”, afirma. A inflação elevada e o aumento do custo dos financiamentos contribuem para a diminuição do consumo. Os pedidos diminuem, principalmente para veículos elétricos. Na Alemanha, a procura por esses veículos caiu mais de um terço que a registrada no ano passado. Problemas de escassez de chicotes elétricos e semicondutores, que assolaram a oferta de automóveis anos atrás, já foi resolvido, o que aumenta a disponibilidade de modelos no mercado.
Indústria química e varejo em queda. Setor eletrônico cresce
Na contramão do segmento automotivo está a indústria química, que, desde o final do ano passado, vem alertando para uma possível crise de consumo e, por consequência, econômica.
“Somos a primeira peça do dominó a oscilar”, diz Markus Steilemann, presidente da associação industrial VCI e da fabricante de plásticos Covestro. “Se as coisas vão mal para nós, que estamos na ponta da cadeia, significa que outros também serão afetados em breve.”
Companhias como BASF, Evonik e Lanxess já reduziram suas metas de 2023. Segundo a VCI, as vendas da indústria química caíram 11,5% no primeiro semestre. “Os números do período são vermelhos, e os custos da produção alemã deixaram de ser competitivos”, critica Steilemann.
Numa pesquisa da Associação Alemã de Varejo (HDE) feita com 900 empresas associadas, 35% afirmaram que esperam a diminuição das vendas no segundo semestre. Em média, é prevista uma queda de 4% no consumo. “A inflação alta impede que o setor tenha um arranque significativo”, esclarece Alexander von Preen, presidente da HDE. Apesar do cenário, é esperado uma recuperação para 2024.
Na indústria eletrônica, isso já está acontecendo. De acordo com a associação industrial ZVEI, as exportações aumentaram 6,1% em maio de 2023 em relação a 2022. As vendas no mercado nacional cresceram mais de 8% neste ano, e os pedidos continuam chegando. “Em nosso setor, a recuperação pós-pandemia foi forte. É evidente que percebemos a estabilização da dinâmica econômica, mas até agora não registramos declínio”, finaliza Jürgen Polzin, especialista econômico da entidade.
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