Mudanças climáticas: Quais os impactos para as empresas?

Em entrevista exclusiva à AHK Paraná, engenheiro da WEHRLE do Brasil afirma que as mudanças são irreversíveis, mas é preciso se comprometer para reduzir os efeitos

O ano de 2023 vem sendo marcado pelo inverno mais quente dos últimos 60 anos, médias pluviométricas acima do normal e umidade relativa do ar baixa. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas registradas foram 3 a 4,5 graus acima da média no país durante a estação. Para entender como essas situações extremas impactam as indústrias, a AHK Paraná conversou com o engenheiro William Padilha, da WEHRLE do Brasil, que participou recentemente da CEO Conference, evento promovido pela Câmara em Curitiba. Confira a entrevista completa com o especialista em gestão da água e efluentes, que atua também na área de resíduos:

AHK Paraná: As mudanças climáticas têm sido assunto bastante comentado. Com dias acima dos 30 ºC em pleno inverno, ciclones no Rio Grande do Sul, tornado em Cascavel, no Paraná, muita gente se questiona sobre o que está acontecendo. Estamos de fato presenciando efeitos da mudança climática?

William Padilha: Parece que há pouco tempo atrás estávamos discutindo os possíveis efeitos das mudanças climáticas, e hoje nossa realidade já nos mostra com nitidez os impactos colaterais. Existem muitos modelos matemáticos utilizados para entender estas mudanças, muitas pesquisas feitas por universidades, convênios plurinacionais públicos e privados e a ONU. Existe uma construção contínua de conhecimento, sempre adicionando novas variáveis.

Algo difícil de prever, por exemplo, é a interação das mudanças climáticas com os próprios fenômenos meteorológicos, como o El Niño e estes do Rio Grande do Sul e de Cascavel. O que buscamos entender é essa interação do aumento da temperatura dos oceanos e o degelo com eventos climáticos e, além disso, como interferem diretamente na nossa vida.

Em alguns pontos é pior do que imaginávamos, porque não prevíamos estas interações, com consequências tão mais aparentes. Não há como reverter isso de uma hora para outra, mas ainda há sim a possibilidade de um compromisso mundial para que sejam diminuídos esses efeitos.

AHK Paraná: A tendência é termos cada vez mais esses fenômenos antes não comuns?

William Padilha: Sim, a verdade é que os eventos ficarão mais diversificados, ou seja, o que muda é a probabilidade da ocorrência e a intensidade dos eventos climáticos como por exemplo, as chuvas. Pode não estar chovendo muito mais do que deveria em certa região, mas a intensidade das chuvas é diferente. Isso impacta a questão da drenagem nas cidades, nas estradas, até mesmo nas indústrias. Podemos dizer que os eventos têm se tornado mais erráticos devido às mudanças climáticas e também devido à interação com eventos meteorológicos. Levará um tempo para que se estabeleça e para se entender o novo  status quo, o novo normal.

AHK Paraná: Quando falamos em ambientes corporativos, qual o impacto dessas mudanças climáticas para as empresas? Há riscos neste sentido?

William Padilha: Sim, há um risco direto para a indústria. Um exemplo concreto é o Water Risk Index, a mensuração dos riscos ligados à água associados à operação de um negócio/empresa ou investimento.

Essa gestão envolve não apenas a falta d’água, mas também sua disponibilidade em excesso, como vemos nas áreas afetadas por enchentes. Qual a probabilidade da incidência de enchentes na região? A localidade na qual a indústria está instalada tem probabilidade de ser atingida por enchentes? Quais são as vazões e em quanto tempo elas ocorrem? As perguntas variam de empresa para empresa. A exemplo do Rio Grande do Sul, algumas das áreas atingidas tinham propensão às cheias, porém não estavam preparadas para um evento tão crítico.

Cada caso é particular: preciso de logística para a minha empresa, será que a cheia de um rio próximo pode atrapalhar a chegada e a saída de caminhões? Se eu não tenho água próxima, se não posso tirar mais do solo, das reservas subterrâneas, será que devo construir uma fábrica nesse local? A gestão da água fica mais complexa com maiores demandas, como em grandes cidades. 

Precisamos ter em mente que as mudanças climáticas trazem mais adversidades, mais riscos. Eu acredito que vamos nos adaptar a esses novos riscos, mas é preciso mapeá-los, isso é muito importante para o negócio.

AHK Paraná: Ainda sobre empresas, qual o papel delas no processo de combate às tais mudanças?

William Padilha: Cada companhia tem um papel passivo de melhorar realmente suas operações, torná-las mais eficientes, emitir menos carbono, manejar corretamente os recursos hídricos e os resíduos de produção. Algumas empresas vão entender que a melhor coisa neste momento é a gestão de água ou energia, outras vão buscar nos créditos de carbono uma maneira de compensar, ou ainda, trabalhar melhor os seus processos.

Estas políticas fazem parte dos compromissos ESG e como a sustentabilidade é aplicada no meio corporativo. As medidas são variadas, cada empresa atua de modo específico, de acordo com as particularidades de cada setor. De qualquer maneira, elas saem do mesmo ponto: o entendimento sobre suas responsabilidades e de seus produtos e serviços. Com essa compreensão, tentam fazer um projeto que tenha impacto positivo no meio ambiente. Isso é feito por meio da metodologia ESG escolhida por cada empresa. Estou reduzindo o meu impacto? Como vou buscar essa melhoria até 2030? Isso é importante tanto para valorizar a marca, por meio da divulgação consciente e do marketing, quanto para o operacional, trazendo eficiência e melhores tecnologias para o negócio.

AHK Paraná: Quais medidas as empresas devem tomar e como conscientizar suas equipes? 

William PadilhaEu acredito que a melhor maneira é investir numa política de gestão ambiental, social, uma política de ESG que seja coerente com as responsabilidades da empresa perante a sociedade.

A partir disso, é preciso encontrar maneiras técnicas que sejam coerentes com o negócio. Nesse ponto entra a governança no processo. As questões ambientais e sociais precisam ser pautadas por uma governança forte, alinhada com os valores.

A empresa pode usar a base dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, da ONU, ou trabalhar de uma maneira mais corporativa, por meio do Global Report Initiative, o GRI. De uma maneira ou de outra, eu acho que as empresas estão sendo chamadas a trabalhar a questão da mudança climática, e a maneira mais clara de fazer isso é pelo caminho do ESG, onde elas realmente se comprometem com a governança e assumem responsabilidades social e ambiental como parte do modus operandi da empresa.


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