A “Große Koalition” entre a aliança conservadora CDU|CSU e o SPD deve resultar em bons negócios para os brasileiros
O futuro econômico, de defesa e de políticas de imigração são os pontos-chave da discussão que consolidará o próximo governo de coligação da Alemanha, que tomará o poder oficialmente na Páscoa. A aliança conservadora União Democrata-Cristã (CDU) e União Social-Cristã (CSU), eleita em fevereiro, e o Partido Social-Democrata (SPD), devem encabeçar o comando do país, conhecido pela estabilidade política e longa tradição de governos de coalizão.
As alianças entre partidos são fundamentais para garantir a maioria parlamentar e a governabilidade do país. É preciso lembrar que o sistema político alemão é uma democracia parlamentar federal, na qual o Bundestag desempenha o papel central na formação do governo. Devido à fragmentação partidária e ao sistema eleitoral proporcional misto, é comum que os partidos não obtenham maioria absoluta dos assentos parlamentares após o pleito popular. Por isso, negociam coalizões para formar um governo estável, por meio de negociações que envolvem acordos programáticos e a distribuição de cargos ministeriais entre os aliados.
Foi o que aconteceu após as eleições de fevereiro de 2025. A aliança CDU/CSU emergiu como a força mais votada, mas sem maioria absoluta, o que os obrigou a negociar com o SPD para formar uma “grande coalizão” (Große Koalition). O SPD acredita num tom conciliatório nas negociações. O secretário-geral do SPD, Matthias Miersch, declarou recentemente ao jornal Rheinische Post que as conversas são marcadas por grande respeito e vontade de construir algo novo. “Nesse espírito, elas continuarão. Agora, é preciso unir estabilidade e renovação, segurança social e força econômica. É nisso que estamos trabalhando,” afirmou Miersch.
A primeira-ministra de Mecklenburg-Vorpommerns, Manuela Schwesig (SPD), que também faz parte do grupo de negociadores, classifica os diálogos como bons e construtivos: “Naturalmente, a União (CDU/CSU) e o SPD partem de posições muito diferentes em alguns campos. Mas, na minha percepção, existe disposição para chegar a bons compromissos,” afirma. Um dos pontos centrais neste momento é a suspensão temporária do chamado “freio da dívida”, que permitirá investimentos em defesa e infraestrutura no montante de até um trilhão de euros.
Já o CDU vê a necessidade de mais concessões por parte do SPD. O primeiro-ministro da região Sachsen-Anhalts, Reiner Haseloff, declarou à Redaktionsnetzwerk Deutschland: “sabemos por que tantas pessoas votaram na AfD nas eleições federais. Elas têm a sensação de que o fluxo de refugiados não está sendo tratado conforme a lei. Acredito que a maioria dos eleitores do SPD também quer uma guinada na política migratória e um Estado que funcione melhor do que sob o governo anterior.”
Segundo ele, no futuro será necessário recusar, nas fronteiras, quem não tiver direito à proteção, e, ao mesmo tempo, garantir que aqueles que tiverem autorização definitiva para permanecer no país sejam integrados de forma rápida e eficiente.
Sistemas Políticos distintos
Embora tanto o Brasil quanto a Alemanha sejam democracias federativas, seus sistemas políticos apresentam diferenças notáveis. A estrutura governamental na Alemanha adota um sistema parlamentarista, onde o chefe de governo (chanceler) é eleito pelo parlamento. Já no Brasil, vigora o presidencialismo, com o presidente eleito diretamente pelo povo, acumulando as funções de chefe de Estado e de governo.
Na Alemanha, a formação de coalizões é comum e necessária para alcançar maiorias parlamentares. No Brasil, embora existam alianças partidárias, o presidente tem maior autonomia na composição do governo, podendo nomear ministros de diferentes partidos sem a necessidade de formar coalizões formais.
Além disso, a Alemanha utiliza um sistema eleitoral misto, combinando representação proporcional e distritos uninominais. No Brasil, o sistema proporcional de lista aberta para cargos legislativos resulta em maior fragmentação partidária.
Por outro lado, a representatividade ampliada alemã por meio das coalizões permite a inclusão de diferentes perspectivas políticas no governo, o que reflete na diversidade do eleitorado. Além disso, a formação de alianças promove maior estabilidade, pois evita que governos minoritários cheguem ao comando e coíbe as frequentes mudanças governamentais.
Contudo, o sistema da Alemanha não se salva dos desafios. As negociações são complexas e a necessidade de conciliar interesses diversos pode levar a uma longa espera pela formação do governo. Partidos podem ter que renunciar a pontos importantes de suas agendas para alcançar consensos, o que desagrada seus eleitores.
Dessa vez, com Friedrich Merz (CDU) à frente como chanceler, espera-se que o novo governo alemão priorize o fortalecimento da economia, investimentos em infraestrutura e uma política externa assertiva. E, principalmente, um retorno da Alemanha ao comando econômico da Europa. Do ponto de vista das relações bilaterais com o Brasil, espera-se um impacto positivo, especialmente para os setores de comércio, meio ambiente e cooperação científica. Afinal, Alemanha e Brasil mantêm uma parceria sólida, e a continuidade dessa cooperação favorecerá o crescimento de ambos os países nos próximos anos.
Quer saber mais sobre os governos de coalizão alemães? Acesse as explicações diretamente em alemão nos links https://bit.ly/3YaS6HQ .
O acordo entre Mercosul e União Europeia, tratado comercial que visa estabelecer uma parceria econômica entre os dois blocos, é uma oportunidade importante para Brasil e Alemanha, visto que será possível fortalecer as relações comerciais, promover a diversificação das exportações e gerar novos investimentos.
Para o Brasil, esse acordo representa uma oportunidade de diversificar suas exportações, o que pode fortalecer sua economia. Barbara Konner, vice-presidente executiva da AHK Brasil, comemora o andamento do tratado entre os dois países. “Esse acordo ocupa uma posição estratégica, figurando entre os três principais itens da nossa agenda. Em primeiro lugar, destacamos a importância do acordo de bitributação entre Alemanha e Brasil, essencial para estabelecer um ambiente de negócios justo e competitivo. Além disso, há um consenso entre as empresas associadas de que o acordo com a União Europeia será essencial para impulsionar o comércio bilateral entre os países”.
Setores com alta competitividade internacional que enfrentam barreiras tarifárias no mercado europeu serão os mais beneficiados. O Brasil, como maior exportador mundial de vários produtos agrícolas, será amplamente beneficiado pela redução de tarifas para diversos itens. Sem contar com o aumento da exportação de produtos industrializados e orgânicos.
Porém, não é apenas o setor do agronegócio que comemora. Martina Hackelberg, cônsul geral da Alemanha em São Paulo, destaca que, para as empresas alemãs que já estão no Brasil, o acordo Mercosul-União Europeia é uma prioridade absoluta. O governo alemão também está animado com a assinatura final do acordo, que deve ocorrer ainda em 2025.
“Brasil e Argentina, como líderes econômicos do bloco econômico latino-americano, estão demonstrando apoio irrestrito. O Brasil, em particular, vê esse acordo como essencial para fortalecer relações comerciais. Com Alemanha e Brasil a bordo, temos duas forças poderosas para impulsionar os trâmites. Essa parceria promete fortalecer laços econômicos, atrair novos investimentos e ampliar oportunidades comerciais.”
A Cônsul complementa que “para a Alemanha, o acordo proporcionaria um mercado mais amplo para suas empresas.” A possibilidade de o intercâmbio profissional ser facilitado também é uma das áreas de interesse, pois é preciso suprir as necessidades do país europeu de especialistas da área da saúde, construção civil e serviços.
A AHK Paraná acompanha atentamente o andamento do acordo comercial entre Brasil e Alemanha, com a expectativa de que essa parceria possa ampliar as relações econômicas entre os dois países e gerar mais negócios.